"Prefiro sair": quando escolher a própria saúde mental é um ato de coragem.

11 abril, 2025

Uma reflexão sobre saúde mental, riscos psicossociais e o que a Psicologia ensina sobre sair de ambientes que já não fazem sentido.

Recentemente, o movimento "prefiro sair" tomou as redes, acompanhado de histórias de pessoas que decidiram deixar seus empregos — não por falta de competência ou oportunidades, mas por excesso de carga, esgotamento emocional e falta de sentido.

Eu sei como é. Eu fiz isso.

Durante muito tempo, permaneci em um ambiente profissional que me oferecia um bom salário, um cargo estável e benefícios acima da média. Mas faltava algo essencial: reconhecimento, conexão humana, propósito.

Foi uma das decisões mais difíceis da minha trajetória profissional. E, ao mesmo tempo, uma das mais libertadoras.

Senti na pele o que é abrir mão da "segurança material" em nome da saúde mental. E mais do que isso: senti a força necessária para sair de um lugar que já não me cabia.

Por trás dessa escolha não houve impulso, nem irresponsabilidade. Houve reflexão, autoconhecimento e, acima de tudo, uma busca legítima por significado e conexões mais profundas.

A legislação trabalhista (NR-01) já reconhece os riscos psicossociais no trabalho. Mas nem sempre a cultura organizacional acompanha esse entendimento. Ambientes que não promovem pertencimento, que normalizam a sobrecarga, que silenciam o adoecimento de seus profissionais… também adoecem.

Na clínica, escuto histórias semelhantes. Pessoas que chegam dizendo: “não era só cansaço — era um cansaço que me tirava a vontade de viver.”

O trabalho tem um impacto direto na nossa saúde emocional — e não podemos mais ignorar isso.

É claro que sair nem sempre é uma opção viável para todos, em qualquer momento da vida. Uma decisão como essa exige reflexão, planejamento e, muitas vezes, tempo. Reconheço que tive o privilégio de contar com uma profissão que me permite diferentes caminhos e possibilidades de atuação — o que nem sempre é a realidade de todas as pessoas.

Na Psicologia, esse movimento pode se relacionar com diferentes aspectos:

  • Autocuidado: sair de algo que incomoda ou causa danos é uma forma legítima de se proteger.
  • Autonomia: reconhecer o direito de escolher o que te faz bem ou mal.
  • Limites saudáveis: saber o momento de parar, mesmo quando é difícil.
  • Evitação experiencial: em alguns casos, pode ser uma tentativa de fugir de emoções difíceis — e isso também merece atenção e suporte.

Sair nem sempre é desistir. Às vezes, é recomeçar. É permitir-se experimentar novas formas de de trabalhar - e viver!

O recomeço pode ser incerto, mas também pode ser fértil. Quando nos alinhamos aos nossos valores, criamos caminhos mais verdadeiros — mesmo que não sejam os mais "fáceis". Se você está vivendo algo parecido ou conhece alguém que esteja, saiba: você não está só. Falar sobre isso é um ato de coragem e um convite à transformação. Vamos juntos?

 

O Trabalho Nunca É Neutro: Proteção da Saúde Mental ou Adoecimento?

7 abril, 2025

A importância da NR-01 na transformação cultural das organizações

O trabalho pode ser uma fonte de realização pessoal, construção de identidade e pertencimento — mas também pode ser um importante fator de sofrimento emocional. Em um cenário cada vez mais desafiador, marcado por metas agressivas, relações complexas e incertezas constantes, é essencial refletir: o ambiente de trabalho que oferecemos protege ou adoece as pessoas?

Essa pergunta ganha ainda mais força com a atualização da NR-01, que passa a exigir das empresas a gestão dos riscos psicossociais no ambiente laboral. E isso implica muito mais do que ações pontuais: exige uma verdadeira transformação cultural.


Quando o trabalho deixa de impulsionar e passa a adoecer

Segundo a CID-11, o Burnout é uma síndrome resultante do estresse crônico no trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Seus principais sinais incluem:

  • Esgotamento emocional;

  • Distanciamento mental do trabalho, acompanhado de sentimentos de cinismo ou negativismo;

  • Redução da eficácia profissional.

O modelo de Maslach e Leiter nos ajuda a entender melhor os fatores que, quando em desequilíbrio, contribuem para o adoecimento:

  • Carga de trabalho: excesso de demandas sem os recursos necessários;

  • Recompensas e reconhecimento: ausência de validação — não apenas financeira, mas simbólica;

  • Autonomia: controle excessivo ou falta total de direção;

  • Relacionamentos: ambiente hostil ou com vínculos frágeis;

  • Propósito e valores: desalinhamento entre o que se faz e o que se acredita;

  • Justiça: percepção de decisões injustas ou tratamento desigual.


Riscos psicossociais: o que são e por que importam?

Riscos psicossociais são fatores relacionados à organização do trabalho, relações interpessoais, estrutura de poder e cultura organizacional que podem afetar significativamente a saúde mental e física dos trabalhadores.

Entre os principais estão:

  • Distribuição desigual ou excessiva de tarefas;

  • Prazos irreais e jornadas extensas;

  • Falta de reconhecimento e apoio;

  • Comunicação ineficaz;

  • Conflitos recorrentes, assédio e exclusão;

  • Ausência de autonomia e voz ativa.

Esses elementos não são apenas “problemas de clima”, mas questões estruturais que, quando ignoradas, alimentam ciclos de estresse e adoecimento.


A NR-01 e a gestão obrigatória dos riscos psicossociais

Desde agosto de 2024, a nova versão da Norma Regulamentadora nº 1 obriga as empresas a mapearem, monitorarem e gerenciarem os riscos psicossociais, com envolvimento ativo dos colaboradores.

Não basta oferecer ginástica laboral ou uma sala de descanso. É necessário mexer nas engrenagens da organização, com ações que envolvam escuta, planejamento, capacitação e mudanças estruturais.

A seguir, um caminho possível:

1. Identificação dos riscos

  • Realização de entrevistas diagnósticas e grupos focais;

  • Aplicação de pesquisas de clima e engajamento;

  • Análise de dados (absenteísmo, afastamentos, rotatividade).

Dica essencial: para que os dados sejam confiáveis, é necessário garantir sigilo, empatia e segurança psicológica.

2. Planejamento e intervenção

  • Priorização dos riscos mapeados;

  • Revisão de metas, fluxos de trabalho e formas de gestão;

  • Implementação de programas de apoio psicológico;

  • Capacitação de lideranças e equipes.

3. Monitoramento contínuo

  • Avaliação periódica das ações implementadas;

  • Novas rodadas de escuta;

  • Ajustes estratégicos com base nos resultados.

4. Promoção de uma cultura organizacional saudável

Para ir além da prevenção e realmente promover saúde mental, é preciso investir em:

  • Políticas claras e canais efetivos de escuta;

  • Ambiente de apoio e confiança;

  • Ações que promovam inclusão, pertencimento e diversidade;

  • Incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional.


Confiança: o alicerce do cuidado em saúde mental

Nem todo sofrimento psíquico está relacionado ao trabalho — mas é inegável que o ambiente corporativo pode atuar como agravante ou atenuante. E a base de qualquer ação efetiva começa pela confiança.

Um local onde as pessoas sentem que podem pedir ajuda sem medo de julgamento é um local mais seguro, mais saudável e, consequentemente, mais produtivo.

Criar esse tipo de cultura exige intenção, formação e liderança sensível. Exige uma visão mais humana do trabalho e um compromisso real com o bem-estar das pessoas.


Conclusão

Atuar conforme a NR-01 é um passo importante — mas não deve ser visto apenas como uma obrigação legal. É uma oportunidade estratégica de evoluir como organização, fortalecer vínculos e gerar valor humano e sustentável.

Afinal, trabalho nunca é neutro. Ele pode ser lugar de dor ou de potência. O que sua organização está escolhendo ser?

 

Procrastinação: Por que acontece e como superar?

4 fevereiro, 2025

A procrastinação é um fenômeno comum, mas pode se tornar um grande obstáculo para a produtividade e o bem-estar. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) oferece ferramentas eficazes para compreender e modificar esse comportamento.


Por que procrastinamos?

A procrastinação não é apenas falta de disciplina ou organização. Quando pensamos sobre fazer uma tarefa, nossa mente muitas vezes vai automaticamente às partes mais desagradáveis dela. Alguns mecanismos que nos levam a adiar o que precisamos fazer:

Medo de que vá ser desagradável: Quando pensamos sobre fazer uma tarefa, nossa mente muitas vezes vai automaticamente às partes mais desagradáveis dela. Quanto mais imaginamos o lado negativo, mais nos desencorajamos a começar!

Medo de não fazer um bom trabalho: Raramente temos certeza de como algo em que trabalhamos vai ficar, e essa incerteza pode trazer o medo de fazer aquilo mal.

Pensamentos permissivos: Às vezes, dizemos a nós mesmos que merecemos uma folga ou nos convencemos de que vamos trabalhar melhor em algum momento do futuro. De uma forma ou de outra, justificamos nossa procrastinação. Adiar as vezes pode ser uma boa estratégia, desde que seja para reunir mais informações ou descansar a mente. Mas precisamos sair desse ciclo em algum momento!

Reforço Negativo: adiar traz sensação de alivio! O cérebro interpreta esse alívio como uma recompensa, e temos mais probabilidade de repetir uma ação que leva a uma recompensa. Dessa forma, nossa procrastinação é reforçada.


Como a TCC pode ajudar?

 Compreender o que causa a procrastinação nos dá pistas de como nos livrarmos desse comportamento, mas talvez sejam necessárias diversas estratégias:

1. Lembre-se de por que não quer procrastinar: Adiar as coisas pode, não só levar a atrasos ou à produção de trabalho de má qualidade, mas também pode nos levar a  sensações de angústia e culpa sobre a tarefa que não estamos fazendo. Lembre-se dessas consequências negativas quando precisar de motivação para começar.

2. Cuidado com o “evitamento virtuoso” ou “procrastinação produtiva”: Fique atento aos momentos em que ocupa o seu tempo com diversas tarefas de menor importância em vez de focar na atividade que está procrastinando. isso traz uma falsa sensação de produtividade e tenta aliviar a culpa por não estar se envolvendo com o que deveria.

3. Decida começar :Frequentemente adiamos fazer algo por não termos bem certeza de como fazê-lo. Na verdade, descobrir como fazer é parte da tarefa

4. Reconheça que você provavelmente também não vai querer fazer aquilo mais tarde Podemos supor que vamos fazer uma tarefa quando estivermos a fim. Pare de esperar o momento mágico em que terá vontade fazer algo.

5.Desafie as crenças sobre ter de fazer algo de forma “perfeita”. Lembre que feito é sempre melhor do que o perfeito que não sai do papel ou das intenções.


Conclusão

A procrastinação é um comportamento que pode ser modificado com estratégias adequadas. Pequenas mudanças diárias podem levar a uma grande transformação na sua produtividade e bem-estar.

Se você quer aprender mais sobre como superar padrões que te impedem de agir, acompanhe este blog e o Instagram @marcelavavassori! 


Referência Bibliográfica: 

GILLIHAN, Seth J. Terapia cognitivo-comportamental: estratégias para lidar com ansiedade, depressão, raiva, pânico e preocupação. Barueri: Manole, 2020. E-book. p.81. ISBN 9786555764239




 

Distorções Cognitivas: Como Elas Influenciam Sua Mente e Bem-Estar

31 janeiro, 2025

Você já se pegou pensando que, se algo der errado, tudo estará perdido? Ou sentiu que os outros estão te julgando, mesmo sem nenhuma evidência? Esses são exemplos de distorções cognitivas – padrões de pensamento que distorcem a realidade e podem impactar diretamente sua saúde mental.

O que são distorções cognitivas?

Distorções cognitivas são maneiras automáticas e disfuncionais de interpretar a realidade. Elas podem intensificar sentimentos de ansiedade, estresse e baixa autoestima, pois nos fazem enxergar o mundo de forma negativa e extrema. A boa notícia é que esses padrões podem ser identificados e modificados.

Principais tipos de distorções cognitivas

🔹 Catastrofização – Sempre espera o pior cenário? Esse tipo de pensamento antecipa consequências negativas de forma exagerada. Exemplo: "Se eu errar essa apresentação, meu chefe vai me demitir!"

🔹 Tudo ou Nada – Enxerga as coisas em extremos, sem meio-termo? Esse pensamento rígido pode gerar frustração e perfeccionismo. Exemplo: "Se eu não for perfeito, sou um fracasso total."

🔹 Leitura Mental – Acredita saber o que os outros pensam sobre você? Muitas vezes, projetamos nossos medos sem nenhuma evidência concreta. Exemplo: "Ela não respondeu minha mensagem. Deve estar com raiva de mim."

🔹 Desqualificação do Positivo – Diminui suas conquistas e atribui o sucesso a fatores externos? Esse padrão pode minar sua autoestima. Exemplo: "Fui bem na reunião, mas foi sorte. Logo vão perceber que não sou tão bom assim."

🔹 Generalização Excessiva – Usa uma única experiência negativa para prever o futuro? Isso pode te impedir de tentar novamente. Exemplo: "Errei uma vez, então sempre vou errar."

Como mudar esses padrões de pensamento?

Identifique a distorção – Perceba quando seu pensamento segue um desses padrões.

Reflita sobre as evidências – Há provas concretas para essa interpretação?

Reformule seu pensamento – Busque uma visão mais equilibrada e realista.

A terapia é uma excelente ferramenta para ajudar nesse processo. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, auxilia na reestruturação desses pensamentos, promovendo mais bem-estar emocional.




 

Você precisa de terapia?

27 janeiro, 2025

☕ Será que você precisa de terapia?

Nem todo mundo precisa fazer terapia, mas muita gente se beneficia dela!

Apresento 3 cenários para te ajudar a entender melhor:


1️⃣ Quem tem algum diagnóstico: a terapia é essencial como parte do tratamento.

2️⃣ Quem não tem diagnóstico, mas tem questões a serem resolvidas, seja no trabalho, nos relacionamentos, inseguranças, dificuldades recorrentes. A terapia pode ajudar e muito!

3️⃣ Quem não tem diagnóstico e consegue resolver bem seus problemas, tendo uma boa autoeficácia. Nesse caso, terapia pode ser uma escolha, mas não é indispensável.


No final das contas, o mais importante é saber que terapia é sobre crescimento e bem-estar, e não apenas sobre crises ou transtornos.


☕ Ficou com dúvidas ou quer conversar mais sobre isso? Me chama pra um café e vamos falar sobre como a terapia pode ajudar você. 💬



 

Terapia Cognitivo Comportamental

27 janeiro, 2025

Durante minha transição de carreira (de RH para dedicação exclusiva ao Consultório), compreendi que o aprendizado contínuo seria indispensável para garantir um trabalho de qualidade e alinhado às melhores práticas. Foi nesse processo que me aprofundei na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma abordagem que rapidamente se tornou central na minha prática clínica.

Com uma sólida base em evidências científicas, a TCC é reconhecida por sua eficácia, estrutura e foco no presente. Mais do que auxiliar na resolução de questões específicas, essa abordagem capacita o indivíduo a compreender seus padrões de pensamento e comportamento, adquirir ferramentas práticas e, o mais importante, desenvolver autonomia para ser o protagonista do seu próprio processo terapêutico.

Para mim, a TCC representa a união perfeita entre ciência, prática e propósito — valores que me movem e que busco levar para cada atendimento. Essa escolha reflete meu compromisso com o desenvolvimento contínuo, tanto pessoal quanto profissional, e meu desejo de contribuir para o crescimento e o bem-estar de cada pessoa que confia em meu trabalho.

Caso queira conhecer mais sobre essa abordagem, podemos marcar um café (presencial ou virtual). 

 

Saúde Mental e Desenvolvimento Humano - O que é preciso para alcançar nosso potencial?

23 março, 2024

A saúde mental tornou-se pauta nas empresas nos últimos anos. Vivemos um período pós pandemia em que o olhar para esse assunto mudou, vemos o Burnout ser considerado um doença ocupacional e aos poucos o assunto vai deixando de ser tabu. Mas ainda há muito para se alcançar quanto a relevância do assunto e a naturalidade com que deve ser tratado. 

Como posso cuidar da minha saúde mental em um mundo tão complexo e com tantas demandas? Como abordar essa questão na empresa onde trabalho, ao enfrentar algum tipo de transtorno? Como as questões relacionadas a saúde mental podem afetar minha carreira (e vice-versa)?

Te convido a assitir a Live - Saúde Mental e Desenvolvimento Humano onde trago um bate-papo descontraído e leve sobre esse assunto.